sábado, 26 de junho de 2010

A europa

Nas minhas incursões nocturnas pelo mundo extraordinário costumo encontrar uns textos engraçados.

Encontrei este, no site do IPRI que fala sobre a (des)unidade europeia... Achei-o engraçado.


João Marques de Almeida

Não há um “problema alemão”
Diário Económico, 14|Junho|2010

Relações Económicas Internacionais
Estudos Regionais - Europa

O suposto “problema alemão” voltou à discussão política europeia. Na semana passada, estive numa conferência em Paris, e os franceses não falam de outra coisa.

A crise económica revelou uma Alemanha "normal", que defende o seu "interesse nacional", deixando de se "preocupar com a Europa". Um participante italiano na conferência disse mesmo, com alarme, que Berlim se tornou "neo-Gaulista". Outro, belga, comparou a Chanceler Merkel à antiga primeira- ministra conservadora, ‘Lady' Thatcher. O "susto" aparentemente é tão grande que nem se apercebem da contradição: a França e o Reino Unido têm legitimidade para serem "normais" e "defenderem o seu interesse nacional"; mas a Alemanha não goza desse direito.

Antes que embarquemos em analogias históricas despropositadas sobre a Alemanha, convém dizer que não há um "problema alemão". O que há é um "problema grego" e, em menor grau, um "problema espanhol", um "problema irlandês", um "problema português", até mesmo um "problema italiano" e um "problema francês" (como reconhece grande parte da opinião pública francesa) e, fora do Euro, um "problema britânico". Ou seja, há na verdade um "problema europeu"; e nesse sentido constitui também um problema para a Alemanha. Não há um "problema alemão".

Como muitos têm repetido, a moeda única assenta num contrato: a Alemanha abdicou da sua moeda (o maior sucesso da política alemã do pós-Guerra), e os restantes participantes no Euro adoptaram a visão monetária alemã (pelo menos, assinaram os Tratados europeus), tendo para isso que disciplinar as suas finanças públicas. A Alemanha cumpriu a sua parte do contrato (se formos à Alemanha não fazemos pagamentos em Marcos, mas sim em Euros). Outros não respeitaram os seus compromissos. Não cumpriram a sua parte do contrato. Esse é o maior problema europeu. Podemos discordar de algumas decisões do governo alemão desde o início da crise, mas atribuir a crise ao "problema alemão" é falso e é um erro.

Além das críticas ao comportamento de Berlim durante a crise, também há quem critique a cultura económica da zona Euro (herdade do Marco). É a divisão de fundo entre a Alemanha e a França. A cultura económica alemã considera que a disciplina e o rigor orçamental são os pilares do crescimento económico sustentado. A cultura francesa tende a privilegiar a despesa e o investimento público para alcançar a retoma económica. O surgimento de uma espécie de "muro orçamental" entre o norte e o sul, entre poupados e gastadores, é um dos maiores riscos que a zona Euro enfrenta. Mas a Alemanha está a defender os tratados europeus. A França é que é a "potência revisionista".

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